sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O CISNE ENFERMO


Há um cisne que morre cercado em um palácio.
Um cisne misterioso com roupagem de seda,
Que em vez de deslizar-se pela corrente leda
Estanca-se cansado de olhar para o espaço.

O cisne é um enfermo que adora um Deus de Ouro;
o Sol, o pai das raças, fecunda sua agonia.
Por isso sua tristeza é uma sinfonia
de flores que se entreabrem nas sombras de seu choro.

Tem o peito cruzado por um louco punhal:
gota a gota seu sangue dilui-se no lago
e as águas azuis se encantam sob o mago
poder desses rubis que destila seu mal.

A alma deste cisne é uma sensitiva...
Não levantes a voz ao lado do estanque
se não queres que o cisne com o bico se arranque
o punhal que sustém sua existência furtiva.

Contam as velhas lendas que está enfermo de amor,
que seu enorme coração foi centuplicado
e que tem nas entranhas, como o Crucificado,
uma dor que contém a toda humana dor.

E contam as velhas lendas que é um cisne-poeta...
que a magia do ritmo lhe ungiu a garganta,
e canta à toa, à toa, como o riacho canta
a rima cristalina de sua corrente inquieta.

Numa noite sonhei que no velho palácio
eu era o cisne cansado de olhar para o espaço.


Alfonsina Storni
Tradução de Cristiane Carvalho e Manolo Graña

Nenhum comentário:

Postar um comentário