sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Dor

Quisera esta tarde divina de outubro
passear pela beira longínqua do mar.

Que a areia de ouro, e as águas verdes,
e os céus puros me vissem passar.

Ser alta, soberba, perfeita quisera,
como uma romana, para concordar

com as grandes ondas, e as rocas mortas,
e as largas praias que apertem o mar.

Com o passo lento, e os olhos frios,
e a boca muda deixar-me levar;

ver como se rompem as ondas azuis
contra os granitos e não pestanejar;

ver como as aves de rapina se comem
os peixes pequenos e não despertar;

pensar que puderam as frágeis barcas
Afundar-se nas águas e não suspirar;

Ver que se adianta, a garganta ao ar,
O homem mais belo, não desejar amar...

...Perder o olhar, distraidamente,
perde-lo e que nunca o volte a encontrar.

E figura erguida entre céu e praia
sentir-me o esquecido perene do mar.



Alfonsina Storni
(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

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