terça-feira, 17 de janeiro de 2012

PRIMEIRA TARDE

Era bem leve a roupa dela
E um grande ramo muito esperto
Lançava as folhas na janela
Maldosamente, perto, perto.

Quase desnuda, na cadeira,
Cruzava as mãos, e os pequeninos
Pés esfregava na madeira
Do chão, libertos finos, finos.

- Eu viapálido, indeciso,
Um raiozinho em seu gazeio
Borboletear em seu sorriso
- Mosca na rosa - e no seu seio.

- Beijei-lhe então os tornozelos.
Deu ela um riso natural
Que se esfolhouem ritornelos,
Um belo riso de cristal.

Depressa, os pés na camisola
Logo escondeu: "Queres parar!"
Primeira audácia que se implora
E o riso finge castigar!

Sinto-lhe os olhos palpitantes
Sob os meus lábios. Sem demora,
Num de seus gestos petulantes,
Volta a cabeça:"Ora, esta agora!..."

"Escuta aqui o que vou dizer-te..."
Mas eu lhe aplico junto ao seio
Um beijo enorme, que a diverte
Fazendo-a rir agora em cheio...

- Era bem leve a roupa dela
E um grande ramo muito esperto
Lançava as folhas na janela
Maldosamente, perto, perto.



Arthur Rimbaud
Tradutor:Ivo Barroso

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