terça-feira, 17 de janeiro de 2012

ORAÇÃO DA TARDE

Vivo sentado como um anjo no barbeiro,
Empunhando um caneco ornado a caneluras;
Hipogástrio e pescoço arcados, um grosseiro
Cachimbo o espaço a inflar de tênues urdiduras.

Qual de um velho pombal a cálida esterqueira,
Mil sonhos dentro de mim são brandas queimaduras.
E o triste coração às vezes é um sobreiro
Sangrando de ouro escuro e jovem nas nervuras.

Afogo com cuidado os sonhos, e depois
De ter bebido uns trinta ou bem quarenta chopes,
Oculto, satisfaço o meu aperto amargo:

Doce como o Senhor do cedro e dos hissopes,
Eu mijo para os céus cinzentos, alto e lardo,
Com a plena aprovação dos curvos girassóis.



Arthur Rimbaud
Tradutor:Ivo Barroso

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