terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Prece

A minha irmã Luísa Vanaen de Voninghem: - a sua coifa azul
virada ao mar do Norte. - Aos náufragos.
A minha irmã Leónia Aubois d'Asbhy. Baou - a erva de estio
borbulhante e fedente. À febre das mães e dos filhos.
A Lulu - demónio - que mantém um gosto pelas oratórias do
tempo das Amigas e pela sua educação incompleta. Para homens! A
madame***.
Ao adolescente que fui. A esse santo velho, eremita ou missão.
Ao espírito dos pobres. E a um bem alto claro.
E a todo o culto em cada lugar de culto memorial e em contingências
tais que nos submetamos, por aspiração passageira ou vício sério.
Esta noite, na Circeto dos morros gelados, oleosa como o peixe,
e iluminada como os dez meses da noite vermelha - ( seu coração
ambâr e spunk ), - para a minha oração silenciosa e única como
estas regiões da noite, e precedendo bravuras mais violentas do que
este caos polar.
A qualquer preço e sob quaisquer céus, mesmo a viagem metafísica-
Mas não agora.



Jean Arthur Rimbaud, in "Iluminações, Uma Cerveja no Inferno"
Tradução de Mário Cesariny

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